Estilo Gastronômico

Assados com generosidade

A parrillada é um dos principais exemplos da troca cultural entre Pelotas e o país vizinho

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Diz-se por aí que somos nós, os pelotenses, muito mais uruguaios do que brasileiros. Somos também muito mais próximos do país vizinho do que da Itália, como é a região da serra gaúcha por conta de colonização, ou a de Cruz Alta da Alemanha pelo mesmo motivo. Os argumentos são visíveis no ambiente, e as diversas parrilladas abertas por aqui por imigrantes uruguaios ou por simplesmente admiradores de tal cultura, só faz se provar a hipótese de que Pelotas pode ser lida como uma extensão daquele país.

No berço de personalidades como Pepe Mujica, Luizito Soares e Páez Villaró existe o Mercado del Puerto. Breve histórico: um navio transportava peças de uma estação de trem para a Bolívia, mas empecilhos financeiros impossibilitaram a sequência do trajeto. Para não ficar no prejuízo, a empresa dona da estrutura resolveu por vendê-la em Montevideo, ao que empresários viram aí com bons olhos a oportunidade e a transformaram não em porto, apesar da localidade, mas em mercado.

Outra hipótese dá conta de que um navio transportava a estrutura que hoje forma o Mercado del Puerto pela costa do Uruguai até que um naufrágio aconteceu e as peças foram resgatadas e vendidas como sucata. Qual é a verdadeira o Estilo Gastronômico não tem como responder. Todavia, sabe-se que há um pedaço do local aqui em Pelotas, em outro Mercado, o Central. É o restaurante Chopp do Mercado, que desde o ano passado serve o melhor da culinária uruguaia em ambiente que não poderia ser mais propício.

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Diz um dos sócios, Tato Ribeiro, ser apaixonado pelo Mercado del Puerto e por seu modo de churrasquear pessoalmente, ao vivo. "Prefiro comer uma costela em tiras, acho mais saborosa", comenta, citando ainda antiga vontade de ligar a gastronomia com suas outras atividades artísticas. "Tive por vários espaços e me parece que ela é próxima, tem essa possibilidade de dialogar, de conceituar um prato. É uma grande maluquice assim como o universo cênico e musical que também me atravessam."

Vicente Botti, uruguaio radicado em Pelotas, chef e outro sócio do local, comenta que a instalação de uma parrillada em um local de vida tão popular e cosmopolita como o Mercado Central foi um desafio. "Pensamos sempre em como evoluir, ter sofisticação, mas manter a filosofia daqui. "Queremos que aqui se sentem elite, transeuntes, viajantes e colonos. Para isso precisamos ter um cardápio estiloso, não perder a ternura, mas ao mesmo tempo ter uma leitura popular que todo mundo entendesse e que também se adequasse a todos os tipos de bolsos", afirma.

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Segundo ele, até o momento o Chopp do Mercado obteve sucesso em tal proposta e o fato de ter sido a culinária uruguaia a escolhida faz parte do sucesso por ter em suas características a generosidade, a troca. "Muitas vezes as pessoas pedem algo e depois querem experimentar mais um pouco. Não é algo fechado, tal comida vale tanto. Nossa cozinha é generosa como é no Uruguai, onde o mais importante é a fartura", diz, destacando o fato de, como no país vizinho, a cozinha de seu estabelecimento ser de fato aberta a invasões dos clientes. "Lá, tu não pede pelo cardápio. Tu vais, te aproxima da parrilla, conversa, come um negocinho e pede por ali", diz, contando causo recente em que um alemão chegou ao local e a única forma de comunicação era levá-lo até a cozinha para que apontasse o que queria. "Uma coisa é o visitar, aqui o cliente faz parte", diz, finalizando dizendo que, em seu país de origem, há na gastronomia muita simplicidade: é molho, pão, carne e muito contraste e força.

Xará
Um dos mais tradicionais representantes da culinária portenha em Pelotas leva o mesmo nome da referência uruguaia, apesar de localizado na Rafael Pinto Bandeira em frente ao Clube Brilhante: Mercado del Puerto. Javier Nuñes, um dos sócios junto de Vitor Hugo Giménez e Cergio Bandeira, entretanto, contesta falta de criatividade. Para ele se trata de muita responsabilidade, isso sim.

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Algo que ele tenta administrar desde que o restaurante abriu, há dez anos. Também uruguaio, ele conta que abriu o estabelecimento por ser o que já estava acostumado a consumir. "No Uruguai há uma parrilla a cada esquina, é muito forte", diz, citando ainda forte identificação da cidade com o país.

Particularidades
Nuñez explica o que diferencia a parrilla do churrasco feito todo domingo por boa parte dos gaúchos. Primeiramente é a forma de assar: ao invés do carvão são utilizadas lenhas, cujo processo de queimação resulta no sabor diferenciado de tal processo.

O sal escolhido para temperar também é outro. Sai o grosso, entra o fino e o uruguaio explica: por se tratarem de cortes menores aos utilizados e de um tempo muito menor até que a carne esteja pronta, não haveria tempo até que aquele tradicionalmente utilizado nos churrasco desse gosto à comida.

Por fim, a diferença está nas carnes típicas de uma boa parrilla. Entram aqui entrecot, assado de tira (costela cortada mais fina), morcilla e molleja, uma glândula localizada no pescoço do boi que, conta Nuñes, no início do Mercado del Puerto não era muito conhecida por aqui. Aos poucos, entretanto, os clientes foram se mostrando curiosos, o assador foi distribuindo pequenos pedaços e o corte foi se popularizando. "Quando nós abrimos vendíamos 20% da molleja que vendemos hoje. Antes o açougue a jogava fora e hoje o quilo é vendido a R$ 22,00", conta. Há no restaurante também opção de parrilla vegetariana, com pimentões, recheados ou não, batatas, cebolas e até mesmo abóbora.

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Segundo ele, há na gastronomia de seu país uma fusão cujo resultado é extremamente original. Tem Espanha, tem Itália, tem até França, mas criou-se uma cozinha extremamente singular. "Na parte de pizzaria tem uma região da Itália que faz pizza e outra que faz fainá, uma massa de farinha com grão de bico. No Uruguai se criou a pizza à caballo, que é o fainá em cima da pizza", argumenta. Recentemente o Mercado del Puerto passou a funcionar também ao meio-dia, com buffet a quilo onde também são servidas carnes da parrillada.

Parrillada: como é feita
Carnes: entrecot, assado de tira (costela), murcilla e molleja
Sal: fino, para mais rápida penetração
Fogo: a lenha, com a grelha localizada próxima à brasa para resultados mal-passados e distante para bem-passados.

Outros lugares em Pelotas para comer parrillada uruguaia
# Aki na Praia
Avenida Antônio Augusto de Assumpção,
8.081 e Shopping Pelotas

# El Paisano
Marechal Deodoro, 1.093C

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